terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A crença

Saiu de lá com fé. Com muita fé em si mesma. No som do carro Bob Dylan a lhe acompanhar. Nos dias em que os pensamentos ensurdecem, ela aumenta o som para deixar a música sobrepor a sua dor.

Era curiosa a sua insistência em escutar "Don't think twice, it's all right " do seu mestre Dylan, mas precisava saborear cada trecho como se seu pensamento ainda não tivesse decodificado a mensagem daquela música.

Naquele dia, justamente ali, entendeu. Os seus caminhos não se cruzavam mais no infinito. "Não pense duas vezes está tudo bem" repetia em voz alta, naquela auto doutrinação.

Chorou. Um choro calado, quase consciencioso. Não chorava mais pelo desfecho das suas histórias. Chorava por si mesma e pelo tempo que ainda levava para entender como funcionavam as coisas do coração.

Apertou o volante e suplicou para não desacreditar no amor. Ela já não acreditava mais. Os seus sonhos haviam morrido ali naquele ponto final. Restava enterrá-los. Se permitiu em velar em silêncio, naquele luto solitário.

Sim, havia entregue o seu coração, mas sua alma jamais poderia oferecer. Um dia já tinha aprendido que a sua felicidade não podia ser entregue a ninguém. Mesmo assim o fez e mais uma vez se frustrou. Hoje era ela quem cuidava da idéia que ainda lhe restava por felicidade.

Algo de muito importante havia sido subtraído da sua essência. Decidiu buscar novamente. Era muito decidida. Não queria perder as esperanças, até desesperar. E foi.

Foi embora, não olhou para trás. Olhar pra trás representa insegurança. Não, definitivamente não estava insegura. A liberdade causava-lhe medo, mas queria essencialmente ser livre. E buscou. E está conseguindo. Mas ainda chora para limpar tudo o que resta daquele romance vivido por si só.


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

a saga da mulher solteira - parte III

Também faz parte da saga da mulher solteira a famosa e maravilhosa dor de cotovelo. São momentos épicos, quase um ode à dor. Um ritual sagrado de culto à saudade. São momentos em que as lembranças chegam em avalanche e a pessoa degusta com prazer.

Tem que ter trilha sonora, claro. E quanto mais deprê mais o momento fica triunfal. Waldick Soriano sempre é boa companhia das dores dos desamores. Torturando esse ser que te adora, vamos desfrutando do nosso momento, só nosso. Acenda um cigarro e beba mais um gole. Momentos como esses são intensos e passam rápido.

Pelo direito nobre de roer. Roa ratinha solteira, o rei de Roma te deixou na sarjeta da solidão. No melhor estilo brega, aumente o som e viva a sua dor de cotovelo. Que mal faz uma roedeira? E quem nunca roeu que atire o primeiro copo.

Nelson Gonçalves que o diga. Mestre em cotovelos roxos ele vivia a dor com a beleza de um amante. Corria pra um botequim, cantava as mágoas de um caboclo solitário no regresso à boemia. Tudo na mais perfeita classe.

Mas seu mundo não caiu cara Maysa contemporânea, se avexe não cumadre, que a tampa da sua frigideira uma hora aparece. Mesmo que furada, um cacareco, é a sua tampa, do seu número, vai te servir muito bem.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

impaciência

Falta paciência. Há que se enfrentar tudo de novo. Necessário de certo, numa imensidão de tantas outras necessidades. Amadurecer. Amadurecimento à fórceps, nas quedas que a vida presenteia como quem tenta insistentemente ensinar com a dor.

Aquela estranheza de quem passou um tempo no escuro e a vista ainda está se acostumando com a claridade. Ardência. Incomodo. O novo assusta. É enxergar a vida de um novo prisma, mesmo sem compreender ao certo o que se passa.

Dançar conforme a música, dizia o velho adágio. Mudanças de ritmos por rotação de segundo. Tontura. Vertígio. Voilà a vida não espera.





quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

a cachaça nossa de cada dia

Perdoai as minhas cachaças. Assim como o fígado ofendido. Sempre me deixei cair em tentação. Mas livrai-me de toda a ressaca. Amém.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

a saga da mulher solteira - parte II


Uma das coisas mais deprimentes que a solteirice nos proporciona, minhas cumadres, é a tal da cantada mau sucedida. Aquelas que fazem a gente pensar que merecia um illustrator na edição do texto do bonitão. Incrivelmente ruins, nos remete a mais uma dúvida de tantas que o estado civil solteira nos proporciona: dar aquele fora que vem na ponta da língua ou respirar fundo e fingir que não é com você?

São tantas bizarrices que os filhos de Adão atiram julgando ser nossos ouvidos verdadeiros pinicos da vovó, que estou montando um glossário, digno de diário de campo de uma antropóloga que pretende fazer uma observação participante para análise etnográfica. Começo hoje um ensaio das três piores que escutei nos últimos tempos.

Cantada Djavan - Aquela que o cara pensa que está impressionando mas na verdade é um grande mico.
De madrugada eu já pagava a conta quando escutei:
- Solteira?
- Sim, mas fechada pra balanço.
- Eu posso ser o peso da sua balança!
Consideração 1 : de onde ele tirou que eu havia falado balança e não balanço?
Consideração 2: Presunçoso não?

Cantada Papagaio de Pirata - Aquela que pega carona numa determinada situação. Essa acontece bastante com mocinhas fumantes e sempre tem o álibi: me empresta teu isqueiro?
Foi assim que aconteceu numa noite em que eu e mais duas amigas bebíamos e fumávamos, não necessariamente nessa mesma ordem, com fortes intercaladas de boas risadas. Entre uma e outra baforada, o carinha disparou:
- Eu já pedi tanto o teu isqueiro que é melhor eu sentar aqui.
- De jeito nenhum querido.
- Jura por Deus?
- Juro por Deus, Maomé e Jeová.
Consideração Única: Ele mereceu o fora que levou.

Cantada Jonny Bravo - Quando o macho alpha se sente o gostosão, imprescindível, único, e entre tantos adjetivos é um grande paspalhão. Essa acontece quase sempre com metrossexuais, é incrível, mas é fato.
Eu estava dançando sozinha, quando me aparece aquele metro e me diz:
- Você merece alguém bonito como eu.
- ?????
Consideração Única: Fingi que não era comigo.

Dá pra tu? Aconteceu, virou manchete.


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

é a pós modernidade - a saga da mulher solteira I

A saga de uma mulher solteira em tempos de amores liquidos é mais difícil que a vida da pitomba em boca de banguelo. Complicação digna de tese de pós doutorado em Oxford. E bote complicação nisso.

Em pleno século XXI, a mulher pós moderna ainda padece do preconceito masculino. Machismo é o gesso que imobiliza a mente do homem. Pode ser o mais descolado ou o mais almofadinha que existe no mercado, fatalmente ele irá te julgar no momento em que se sentir inseguro. Não se trata de uma discussão de gênero, sexista e desnecessária nesses fragmentos tolos, é o desabafo de uma mulher perdida nesse meio de mundo de pós modernidade.

E exagere ai na dose de dúvidas. Muitas e em avalanche. O que fazer quando aquele macho alfa que exala testosterona aparece cheio de amor pra dar na balada? Partir pra cima? Ele pode me achar jogada. Ficar na minha? Pode achar que não tenho interesse.

A situação piora cara amiga e minhas imagem-semelhantes quando pescamos o bonitão. Aceitar o convite de ir pra cama de prima, assim de testa mesmo? Muitas mulheres guardam seu tesão pra impressionar o cara. Eu sou dessas mulheres que só dizem sim, mas aceito como prenda a ligação do dia seguinte, a massagem no ego e o disfarce de que tudo não é apenas sexo e amizade.

Homens às vezes dá enfado. O preconceito com mulheres independentes é tão previsível que a máxima do antes só do que mal acompanhada vira rotina na vida de muitos rabos de saia que conheço, na minha inclusive.

Não meu amigo cafa, não me ligue somente para os finalmentes numa madrugada fria qualquer que você foi o perdedor. Seje homi rapá. Diga mais que sou linda, massageie o ego dessa cria de suas costela, que mal faz nisso? Ligue para comentar o seu dia, diga que escutou Neil Young e se lembrou daquela conversa que tivemos, mesmo que seja mentira. Mentiras sinceras me interessam. Afinal você é um homem ou um prato de papa?

O medo, talvez seja a variável mais decisiva nesses momentos. Take it easy, baby, não mordo em condições desfavoráveis. Sim, sou inteligente,você não vai me dobrar fácil, tenho independência financeira, e blá blá blá, não me venha com esse papo de medo de se apegar que isso está mais desatualizado que o dedal da minha tia avó. Se jogue hombre, que a distância da sua queda é a mesma que a minha.

É, bem que Bauman avisou, são tempos de amor líquido.

Então, aprenda com Leonard Cohen:

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Imagina o Brasil ser dividido


As manifestações recentes de preconceito e discriminação contra o Nordeste na internet têm me afetado de maneira preponderante. Não apenas por ter sido vítima no tempo que passei em São Paulo onde o tratamento por "baiana", "baianagem" e adjacentes era comum, mas por saber que o preconceito, em suas mais diversas manifestações, está presente na vida do brasileiro de maneira velada, onde todo mundo finge que não vê.


Cheguei à São Paulo com 6 anos de idade e já na escola enfrentei a dificuldade em ter amigos por ser "baianinha", com o tempo passei a negar minhas origens como forma de auto afirmação. Hoje, madura, de volta à "terra dos altos coqueiros", sou vítima de preconceito por ser uma mulher independente numa sociedade machista, entre tantos outros.


Manifestações preconceituosas atingem milhares e milhares de pessoas e, entre negros, gay's e as famosas "minorias", ficamos sempre escondendo os preconceitos nossos de cada dia. Por um lado, tais manifestações públicas têm sido importante para que o Brasil veja que não existe a tão proclamada "democracia racial, étnica e de gênero", e ainda que tenhamos no poder uma mulher que está sucedendo um operário nordestino, precisamos avançar muito.


Preconceito gera consequências sérias para a formação do indivíduo e ao convívio social. O índice de suicídio entre os homossexuais é cada vez mais crescente, fruto de uma não aceitação social, negros assassinados por serem confundidos com criminosos é algo presente também, dentre tantas outras.


"Imagina o Brasil ser dividido e Nordeste tornar independente". O Nordeste não é sinônimo de miséria, passamos anos sem atenção de governos federais e por isso temos ainda uma carência tecnológica e financeira face ao Sul/Sudeste, estamos avançando, o Brasil está avançado e a mentalidade das pessoas permanece estagnada.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

um poço

Enquanto as folhas do calendário se esvaem, permaneço equilibrando um corpo esguio mal ajambrado num par de calçados nº 37 para seguir em frente, cambaleante, com as dores dos desamores, aquela dor física de quem levou uma chapuletada na cabeça e ainda está azoretado.

As tarefas corriqueiras se tornam penosas. De todas sem dúvidas dormir tem me parecido a mais difícil, quando tudo em volta se abranda os morcegos do nobre Augusto dos Anjos invadem o quarto, o juízo não pára.

À noite as criaturas mais asquerosas saem da toca, entre baratas, ratos e morcegos, a minha insônia se instala para a tortura noturna.

Clamo em luto: se for pra estar no poço, prefiro o fundo dele, tenho dito, lá posso desaguar tudo o que resta de dor para que com o despertar dos dias de sol eu possa sair com a certeza que não me resta mais nada do que um dia sofri.

"Há que sentar-se na beira do poço da sombra e pescar luz caída com paciência", trabalho difícil caro Neruda, necessário por supuesto.

Desprezo é o que um dia, quando o amor acabar, poderei desfrutar do inusitado de nós dois.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

haikai doido

dor dói
dói dor
doido
(por você)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

aquele ponto final


porque toda razão / toda palavra / vale nada / quando chega o amor

terça-feira, 5 de outubro de 2010

da ressaca de um the end II

Depois do the end no centro da tela. Os créditos finais. Fade out, fade in. E começa o filme II parte I: Prometo.

Uma chuva de promessas. Um toró daqueles pesados. É mais promessa que o Estádio do Santa Cruz todinho implorando à Deus, Jesus, Jeová ou Maomé para tirar a cobrinha da série "D".


É promessa de tudo quanto é tipo meu nêgo e minha cumadre, é um tal de “eu juro não ser tão passional”, “prometo não me entregar tanto na próxima empreitada amorosa”, “eu juro que vou me amar mais”, e por ai vão as promessas nossas de cada decepção.


São as promessas da ressaca do fim. Tão fluídas como as da cachaça mal sucedida, como regime de segunda-feira e das nobres mudanças de fim de ano.


Promessas devem feitas, mesmo que elas não saiam da sua posição original, apenas promessas!

Prometa, mesmo sabendo que você não vai cumprir. Pelo direito nobre de prometer. Invente mundos fantásticos de alguém que levou uma queda do cavalo branco daquele bandido e será socorrida pelo príncipe. Prometa se cuidar mais, ser mais racional, evitar DR’s, ser madura. Prometa. Que mal faz uma promessa não cumprida?


Jure de pé junto, mesmo sabendo que ao próximo cheirinho no cangote você possivelmente vai esquecer tudo o que prometeu. Vai se entregar como uma louca, vai ser intensa, passional e cometer os mesmos erros tudo de novo. Ou vai me dizer que o próximo macho alfa que aparecer galanteante na sua frente não vai te deixar com borboletas no estômago? Pra cima de mim dona Maria?


Pelo direito irrestrito de amar demais, mesmo que seja tudo somente sexo e amizade.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

da ressaca de um the end I

dor passa
passa dor
passador
passado

sábado, 11 de setembro de 2010

never more baby

No dia em que o amor acabou, trajava roupas de gala, cruelmente triunfal. Os trajes contradiziam o que ele era, diretamente do Paraguay, eis o amor, no melhor estilo ex amor.

Muitas vezes destruiu sonhos, é verdade, mas eram nas mais perfeitas noites estreladas, saboreadas por um delicioso cabernet sauvignon. Tim tim, eu sou o amor! Toca um Dylan na vitrola que a felicidade nos espera.

Mentiras sinceras me interessam. “Paz na terra aos canalhas”. "Mil vezes um cafajeste à um corvade", já dizia Xico Sá.

A cortina caiu e denunciou a covardia. “Finja que não é com você”.

Covardia não! Pior defeito que se possa existir nesse mundo de meu Deus. Covardia esconde atrocidades.

Numa visão à lazer pudemos vislumbrar a tragédia. Do espectro doloroso vimos o amor covarde, desleal e desonesto. Aquele sonho dourado? Never more baby, ele nunca poderia lhe oferecer.

Pintava de amor-amante, digo, amante, com juras inatingíveis. Mon amour meu bem ma femme, caro Reginaldo Rossi, travestiam injúrias.

A ilusão chapuletou os sonhos. E o que era verdade, desmoronou. Destruição completa, até a reconstrução. Dias de sol estão à espreita.

Dessa vez, ganhou, mas foi de wo. Que feio!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

uma estrela em nossas vidas


Inocente, disfarçava sua coragem e determinação atrás do codinome bananão.
Bravo guerreiro enfrentou fileiras de lutas com coragem.
Materialista por derredeiro, não podia deixar de ser, mas sensível às coisas do céu, terra e mar.
Lembro de um dia em que o apresentei às constelações, os astros o encantavam.
Ali em frente ao mar ele sentiu uma energia diferente.Soube contemplar a contelação de órion como nunca vi antes.
Notei a beleza do seu espírito, sabia que um dia ele brilhava.
Hoje, Rafael Figueirôa Ferreira, o Bananão, é mais uma estrela no céu iluminando nossas vidas.
Vai em paz Rafa!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

[ . ]

silêncio que emudece a palavra e ensurdece o pensamento.

sábado, 4 de setembro de 2010

quero

um olhar sincero
um toque de desejo
uma palavra de carinho
quero amor verdadeiro
sua cabeça na minha,
sem culpa
quero sinal de vida,
desejo e fogo
noites ardentes
um convite para sair
uma mensagem no celular,
no e-mail ou num bouquet
quero beijos de paixão
sem compaixão
é muito querer?

domingo, 29 de agosto de 2010

a curiosidade nossa de cada dia


O mundo é movido pela curiosidade. Não fosse por ela, o nosso ancestral cabeludo lá das cavernas não tinha nem sequer raspado uma pedra na outra para saber no que ia dar. O que seria de nós sem os tantos curiosos, bisbilhoteiros e, quem sabe, fuxiqueiros pelo mundo. Leonardo Da Vinci, Santos Dumont, Thomas Edson...

As redes sociais provocam certo voyerismo cibernético. Todo mundo bisbilhota, mas finge que nada acontece. Sites de relacionamento são como a porta do cabaret: despertam a curiosidade das pessoas e se você abrir um pouquinho tem sempre alguém que mete o pé e tenta escancarar a bodega. Cedo ou tarde você será a próxima vítima.

A satisfação é uma necessidade humana potencializada pela web. Os curiosos de plantão agradecem, vasculham e viram de ponta cabeça para se inteirar um pouco mais. Não basta ser bisbilhoteiro, é preciso participar, repassar e movimentar esta máquina que move a curiosidade nossa de cada dia.

Um clic e estão lá, as informações escancaradas. Desafetos, amigos, amigos de amigos, todos participam. Bendito seria James Bond se houvesse a seu favor a internet. A cada dia proliferam 007’s mundo a fora a investigar vidas alheias, munidos com a banda larga para facilitar o trabalho. O mundo pertence aos curiosos. Voilá curiosos do mundo, uni-vos!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

erotismo cibernético

" Entra no msn, lá te dou o meu orkut, assim poderemos twittar a noite toda e eu vou poder ver teu twipic."

E a senhora ao lado, depois de se benzer, pensou: "que baixaria!"

domingo, 22 de agosto de 2010

démodé

Do sonho infantil em desfilar seus pequenos passos como dama de uma noiva num prenuncio da felicidade à adolescência antiquada em debutar em valsas com longos saiotes vintage, suspirava ilusões de um tradicionalismo que a sua vida não comportaria.
Nasceu na tão proclamada sociedade alternativa, mesmo sendo a mais conservadora de todas.
Amante às tradições que enfeitavam o romantismo com requintes de princesa, era a sua origem cigana que lhe impunha a informalidade, como numa ceia ao chão, regada a vinho e ouro roubado.
Sentia que sua personalidade era igualmente roubada a cada sonho frustrado, ainda assim nunca deixou de cevar os sonhos, como quem cuidava com resignação de um frágil animal de estimação, pois eram deles que se alimentava.
Acreditava piamente no amor, e nunca no mundo havia permitido em deixar-se desacreditar. Era o amor que a movia.
Parecia que havia saído de um conto clássico, filmado em preto e branco, num cenário estranho a qual jamais pertencera.
E era estranho o abismo que dividia a intensidade vermelha daquela vida imposta sem consultas prévias àquela que alimentava a silenciosa ilusão de uma vida démodé, com véu e grinaldas amareladas.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

a sorrir

Enquanto os dias passam procuro observar as nuances da vida com lunetas nos olhos, tento ver de perto os movimentos espirais do destino, como aquele compromisso pré agendando, inadiável. É certo que muitas vezes deixamos passar. Dor de cabeça, mal estar, ou derivados, não amenizam a responsabilidade de cumprir a agenda.

Nos preocupamos. Desgaste comum de uma vida pós moderna cheia de questionamentos, pressões. O fato é que cedo ou tarde a vida clareia com o passar daquela nuvem pesada, mas é só pra dar cabimento a outras tão ou mais pesadas quanto, seria como o velho adágio do frio conforme o cobertor.

O essencial é descobrir que a vida dá cabimento ao sorriso. E ainda resta em mim a capacidade de sorrir, da vida, das decepções, das alegrias e vitórias. Menos mal, não fui contaminada.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

festa da democracia

Estamos em época eleitoral, um momento onde a democracia se manifesta e o Brasil passa a refletir acerca do momento político que passamos, com perspectivas de melhoras sociais, econômicas e políticas refletindo diretamente no nosso cotidiano. Pensando nisso, envio este e-mail para apresentar os meus candidatos para este pleito eleitoral que se aproxima, fazendo um breve resumo das suas atuações. Gostaria que vocês analisassem com carinho, sabendo que nosso voto é de extrema importância para o país e para as nossas vidas.

Presidente: Dilma 13
Meu voto será para Dilma, para que os avanços da chamada "era Lula" continuem, pois entendo que o Brasil está tomando o rumo do progresso com ações sociais, econômicas e políticas, tanto nacionalmente como internacionalmente, arrojadas e avançadas para o nosso país. Dilma participou como protagonista dessas mudanças e o Brasil tem visto a sua postura séria e centrada como ministra do governo Lula.

Governador: Eduardo Campos 40
Votarei em Eduardo por estar alinhado à política nacional em priorizar as camadas menos favorecidas da sociedade, bem como, trazer avanços tecnológicos e econômicos, com o advento de Suape para nosso Estado colocando-o em destaque como pólo econômico do Nordeste e do Brasil.

Senadores: Humberto Costa 130 e Armando Monteiro 140
Humberto Costa, médico, esteve à frente do Ministério da Saúde no primeiro governo de Lula, hoje ocupa a pasta de Seretário das Cidades no governo de Eduardo. Também foi secretário da saúde de Recife, Deputado Federal, Estadual e Vereador de Recife, onde obteve a maior votação em 2000.
Armando Monteiro, deputado federal com expressiva votação em 2006, político bem preparado integra a lista dos “Cem Cabeças do Congresso”, elaborada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

Deputada federal: Luciana Santos 6513
Meu voto será também para uma mulher para Deputada Federal. Luciana foi líder estudantil, deputada e prefeita da cidade de Olinda durante 2 gestões consecutivas, levando para aquela cidade muitos avanços, colocando-a como capital cultural do Brasil e priorizando políticas sociais com muita responsabilidade e respeito ao povo. Luciana Santos esteve à frente da Secretaria de Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente no governo do Estado (gestão de Eduardo Campos), protagonizando os avanços tecnológicos que nosso estado tem acompanhado.

Deputado Estadual: Luciano Siqueira 65100
Para representação na Assembléia Legislativa do nosso estado, votarei em Luciano Siqueira, médico por formação é uma das principais lideranças políticas de Pernambuco, foi vice prefeito por 2 gestões 2000 e vereador da cidade do Recife . A sua atuação prioriza os seguintes eixos temáticos: mobilidade urbana, transporte e trânsito; desenvolvimento econômico,emprego, educação para o trabalho; cultura; segurança, direitos humanos, espaços urbanos seguros;saúde, meio ambiente e habitação.

terça-feira, 22 de junho de 2010

uma leveza


Acordou desejando dormir. A maior invenção tecnológica dos últimos tempos tinha sido a soneca do celular. Cinco minutos a mais numa manhã cansada muda o dia de qualquer um. Levantou-se, atrasada, repetindo os mesmos ritos que aprendera desde cedo. Desejava um dia ter uma audiência particular com Santos Dumont e perguntá-lo se não havia nada melhor para inventar do que o relógio de pulso. Os relógios de pulso nos deixam presos às horas, porque estão sempre ali pra não esquecermos.Tinha ódio mortal dos relógios de pulso.

Chegou à repartição gelada. O ar condicionado costumava cuspir neve e o exaustor tinha a função de espalhá-la por todo o ambiente. Percebia que a frieza tornava-se ainda mais cruel quando existia um abismo entre o que parecia ser e o que se apresentava de fato.Tinha medo das pessoas com cara de bom dia.

Por um instante, sentiu-se oprimida pelos sorrisos de dentes travados. Mas era melhor pensar que, no fundo, havia uma verdade naquela encenação. Esboçou satisfação. Era criativa demais para permanecer indefesa. Contava com a criatividade e isso a bastava. Proferia a si mesma certezas do seu mundo. Intrasnponível mundo.

Rabiscou em sua caderneta quaisquer frases. Fazia isso quando queria conferir o que ainda lhe restava de valor dentro de si. Fazia exaustivas conferências com o seu inconsciente. Finalmente constatou que o mundo de fora não havia subtraído o que lhe restava de mais nobre: a sua leveza.

domingo, 13 de junho de 2010

forever and ever



É encontrar um baú cheinho de riquezas. Não dá pra medir. Nem tem valor de troca. Tem cheiro de música. Tem som de jardim. A pele arde. Brasa, fogo, raiva, felicidade. Paixão. Inquietante paciência. O coração pula. Salto, cambalhota e dança. Música dançante para a vida. É sorriso por dentro, que não cabe em si e transborda. Amor. A respiração vacila. E borboletas invadem o estômago. Vontade. Você que cabe aqui. Forever and ever cravado em letras garrafais.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Aviso importante:

Aos leitores, transeuntes, curiosos e fuxiqueiros;

Fui ali viver o mundo e em breve voltarei com apontamentos de uma vida contemporânea cheia de cobranças de bons resultados.

Desculpe o transtorno, estou trabalhando para melhor servi-los. (sem duplo sentido, please)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

mais um Crtl C + Crtl V

Tenho dito e redito, sejam em twittadas, nestes fragmentos ou nas andadas filosóficas que a vida insiste em me colocar, e reafirmo aos quatro ventos que Xico Sá é um dos grandes cronistas brasileiros e que eu o admiro como quem é devoto do grande mito nordestino, o Padim Padi Ciço!
Por isso, tomei a liberdade de dar um Crtl C + Crtl V em mais uma crônica, daquelas que a gente lê e pensa 
"por que não fui eu quem escreveu isso?" , encontrada na coluna Modos de Macho e Modinhas de Fêmea  do nosso Padim Padi Ciço da literatura.  

***
MODOS DE MACHO - Do riso e do esquecimento do fim

E quando imaginávamos que estava tudo acabado, que amor não mais havia, que tinha ido tudo para as cucuias, que o fogo estava morto como no engenho de Zé Lins, que o amor era apenas uma assombração do Recife Antigo...
 
Quando já dizíamos, a uma só voz, aquela crônica triste de Paulo Mendes Campos: “Às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba...”
 
Quando já separávamos, olhos marejados, os livros e os discos...
 
Quando o Neruda já estava no fundo da caixa de mudança...
 
Quando mirávamos, no mesmo instante, a nossa foto feliz no porta-retratos...
 
Quando não tínhamos nem mais ânimo para as clássicas D.R´s –discussões de relação...
 
Ave, palavra, até o gato, nervoso, sem saber com quem ficaria, quebrava coisas dentro de casa àquela altura.
 
Estava na cara: aquele feliz casal já era.
 
O cheiro do fim tomara todos os cômodos, a rua, o quarteirão, o bairro, a cidade, o mundo...
 
Quando só restava cantar uma música de fossa do Chico... “Aquela aliança você pode empenhar ou derreter..."
 
Quando só restava a impressão de que eu já vou tarde...
 
Sim, o quadro era realmente trágico, não se tratava de exagero nosso. Sabe quando resta apenas o silêncio e o descaso?
 
De tanta inércia, faltava até força para que houvesse a separação física, faltava força para arruma as malas, para ir morar no Lameiro, lá no Crato, ou na casa de um amigo.
 
Ah, amigo, quer saber quem bateu o ponto final da história do casamento?
 
Ela, claro, você acha que homem tem coragem para acabar qualquer coisa?
 
O estranho é que ela não disse, em nenhum momento, que não gostava mais do pobre mancebo. Aquilo me encucava. Porque um homem, como disse o velho Antonio Maria, nunca se conforma em separar-se sem ouvir bem direitinho, no mínimo quinhentas vezes, que a mulher não gosta mais dele, por que e por causa de quem etc etc.
 
E nesse clima de fim sem fim os dias foram passando... Até que chegou o domingo.
 
Eu acabara de levantar do amigo sofá, que havia se transformado no meu leito, quando ela passou com uma cara de impaciência e desassossego. Mais que isso: com vontade de matar gente!
 
Era a cara que fazia quando estava faminta. Sabe mulher que fica louca quando a fome aperta?
 
Vi aquela cena e cai na gargalhada. A princípio ela estranhou... Mas sacou tudo e danou-se a morrer de rir igualmente. Nos abraçamos e rimos e rimos e rimos e rimos daquilo tudo, rimos da nossa fraqueza em não dar a volta por cima, rimos do nosso silêncio sem sentido, rimos desses casais que se separam logo na primeira crise, rimos da falta de forças para enfrentar os maus bocados, rimos, rimos, rimos....
 
E um casal que ainda ri junto tem muita lenha verde para gastar na vida e fazer cuscuz com bode. Agora ela está deitada, linda, cheirosa, gostosa, psiu!, silêncio, ela dorme enquanto escrevo essa crônica!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

numa ilha deserta

Que é da natureza do indivíduo viver em sociedade, todos nós sabemos. Não precisaria assistir as longas aulas de sociologia para saber que a sociedade é vital para o sujeito. Nem muito menos ver Tom Hanks todo barbado gritando por uma bola chamada Wilson para entender que o isolamento numa ilha deserta pode afetar a sanidade do ser humano. Mas a questão não fica por ai...
Insano também é o funcionamento da sociedade que cobra que o indivíduo seja autêntico mas muitas vezes não aceita uma opinião divergente e ai quando o cabra da peste inventa de comunicar algo polêmico numa roda de conversa, ele é quase execrado em praça pública por amigos ou derivados. Ora, a comunicação não é o que nos diferencia dos animais irracionais? Nem sempre... irracional é não perceber que as pessoas não precisam olhar na mesma direção para todo sempre amém. As criaturas têm opiniões e posturas diferentes e isso não significa que a essência deste sujeito foi ultrajada em decorrência do ponto de vista diferenciado.
É ai que os cenários mudam e quem era amigo passa a ser amigo dos nossos desafetos. Decepção. Realidade fria quando percebemos que na vida estamos sós em muitos momentos.
Na grande ciranda da vida, precisamos muitas vezes nos preencher do vazio existente na ilha deserta que existe dentro de cada um.

terça-feira, 6 de abril de 2010

desejos

Eu desejo voltar a sorrir de dentro pra fora e amar como um dia fui capaz. Desejo amigos eternos, abraço apertado e colo confortável.
Eu desejo acreditar nos meus sonhos e me iludir com cada um deles. Desejo não desacreditar no amor.
Eu desejo ter sono na hora de dormir, ter fome na hora de comer e chorar pra limpar o que me resta de dor.
Eu desejo que meus desafetos sejam perdoados e que um dia eu me perdoe. Desejo acertar a direção, ajustar o leme e seguir adiante.
Eu desejo que a minha intensidade não atrapalhe ninguém, desejo que ela não me atrapalhe. Desejo precipitar sem me arrepender, desejo uma visão além do alcance.
Eu desejo sofrer quando tiver que sofrer e ser sinceramente feliz quando tudo se abrandar. Desejo paz de espírito e harmonia de vida.
Eu desejo não perder as esperanças até me desesperar.

quarta-feira, 24 de março de 2010

nunca vou ser o mesmo novamente

You taught me how to love you, baby,
You taught me, oh, so well.
Now, I can't go back to what was, baby,
I can't unring the bell.
You took my reality
And cast it to the wind
And I ain't never gonna be the same again.

sábado, 20 de março de 2010

divisão de bens

Leve com você as fantasias de menina, as alegrias vividas, o cheiro seu que ainda resta por aqui. Leve o sonho dourado, aquela viagem planejada e as malas que insistem em não se desfazer.

Espero que você leve a casa decorada, os filhos correndo no jardim, o ateliê no quartinho, o vestido branco bordado com o anel que nunca foi meu. Leve também as noites ardentes, os desejos inquietantes, a sua impaciência em me despir e esses sussurros que hoje me ensurdecem.

Não esqueça de levar as lembranças da nossa casa de praia, das conversas até amanhecer, do vinho tinto malbec e dos seus apetrechos culinários que um dia saboreamos juntos. Leve embora as tardes de domingo, os filmes que assistimos abraçados, as brincadeiras compartilhadas. Não esqueça que você deixou comigo aquelas músicas, a guitarra que não consegui tocar e as incansáveis aulas de inglês, não erre em deixá-los com alguém da próxima vez.

Eu quero que os meus delírios, a minha intensidade e o meu desejo em viver feliz possam ter contagiado você. Guarde com carinho os sambas por mim cantados com um copo de cerveja gelado e as minhas crises de riso. Espero que em você tenha ficado o melhor de mim. Os desentendimentos podem ser jogados fora porque eles vão embora com o vento.

Os sorrisos, os carinhos, os beijos, a cumplicidade ainda são seus, o amor, está por aqui insistente. Cuide daquele brilho nos olhos das vezes em que te vi acordar com a cara amassada, dos momentos em que prestava atenção nas suas notas de rodapé entre um ou outro gole de café, sobre os livros que leu, os filmes que assistiu e os artistas que não conheci. São seus também o choro apertado, o sonho dilacerado, a desesperança e as noites insones que estão por vir.

Leve pra você tudo o que quis ser e não fui.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Café com poesia

Clariceando...

Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.

***

...Que minha solidão me sirva de companhia.que eu tenha a coragem de me enfrentar.que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.
Clarice Lispector

segunda-feira, 8 de março de 2010

A feminilidade


Nós, as mulheres!
Somos mães, esposas, conselheiras, trabalhadoras e donas de casa.
Ocupamos o mercado financeiro, somos economicamente ativas, mas batalhamos muito pra chegar até aqui.
Cantamos samba com louvor, batucamos nos botecos, dançamos com sensualidade e sabemos beber um aperitivo com muita classe.
Sabemos ser hostis, quando necessário, mas a sensibilidade é nosso charme principal.
Falamos de sexo, gostamos de atrair, amamos ser desejadas e que atire a primeira pedra aquela que não gostar de uma boa cantada, mesmo assim adoramos um romântico- a- moda-antiga.
A cordialidade masculina nos atrai, buquê de rosas, chocolates e qualquer truque, ainda que batido, funciona com facilidade para nos envolver, mas percebemos fácil quando a cordialidade está travestindo o 171 canalhesco.
Quando nossa inteligência é subestimada, provamos nossa capacidade racional com muita habilidade e crueldade.
Somos contemporâneas, hippie, descoladas e clássicas. Equilibramos nosso corpo em saltos nº20, fazemos depilação semanalmente, nos maquiamos e estamos sempre perfumadas.
Gostamos de uma boa música e não dispensamos boas companhias para um papo agradável. Falamos sobre política, economia e comentamos o último filme do Spike Lee.
Nós já queimamos sutiãs, somos filhas de Joana D’arc, admiramos Anita Garibaldi e agradecemos às 130 grevistas tecelãs mortas numa fábrica por deixarem de herança a nossa liberdade.




segunda-feira, 1 de março de 2010

sonhos

Eu preciso sonhar pois os sonhos movem minha existência e quando não os tenho fico assim: perdida!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Over the rainbow

Em algum lugar além do arco-íris
Bem lá no alto
Os sonhos que você sonhou
Uma vez em um conto de ninar
Em algum lugar além do arco-íris
Pássaros azuis voam
E os sonhos que você sonhou
Sonhos realmente se tornam realidade
Algum dia eu vou desejar por uma estrela
Acordar onde as nuvens estão muito atrás de mim
Onde problemas derretem como balas de limão
Bem acima dos topos das chaminés é onde você me encontrará,
Em algum lugar além do arco-íris pássaros azuis voam
E o sonho que você desafiar, por que, porque eu não posso?

Bom, eu vejo árvores verdes e
Rosas vermelhas também
Eu vou vejo-as florescer pra mim e pra você
E eu penso comigo
Que mundo maravilhoso

Bem eu vejo céus azuis e eu vejo nuvens brancas
E o brilho do dia
Eu gosto do escuro e eu penso comigo
Que mundo maravilhoso

As cores do arco-íris tão bonitas no céu
Também estão no rosto das pessoas que passam
Eu vejo amigos apertando as mãos
Dizendo, como você está?
Eles estão realmente dizendo Eu te amo!
Eu ouço bebês chorando e eu vejo eles crescerem,
Eles estarão aprendendo muito mais
Do que nós sabemos
E eu penso comigo mesmo
Que mundo maravilhoso.

Tradução da música Over the rainbow de Israel Kamakawiwo'ole

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Reviravolta volver

Reviravolta é uma concessão da vida para desarrumar e rearrumar os cenários da cena principal. Numa batida da claquete muda tudo e o que estava bom fica ruim e o que era ruim fica bom, não necessariamente nessa mesma ordem, ou desordem. É igualzinho ao que acontece quando a cerveja esquenta, o que era bom fica intragável e vice versa também, já que se trata da revira a volta.
O curioso é notar o vazio existencial dos protagonistas e coadjuvantes, embalados por uma trilha sonora que passa de Neil Young à Reginaldo Rossi, são obrigados à desprender-se dos seus planos, sonhos e desejos até adequar-se à nova cena, ao novo plano de imagem e jogo de luz, que mudará no próximo comando do diretor.
Reviravolta é um jogo incessante entre o que era e o que será nos próximos segundos como a reedição de um filme ou a customização de uma roupa, muda ao próximo grito: Corta!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Ao grande Noel

Se um dia na orgia me chamassem
Com saudades perguntassem
Por onde anda Noel?
Com toda a minha fé responderia
Vaga na noite e no dia
Vive na terra e no céu

Seus sambas muito curti
Com a cabeça ao léu
Sua presença senti
No ar de Vila Isabel
Com o sedutor não bebi
Nem fui com ele a bordel
Mas sei que está presente
Com a gente neste laurel

Veio ao planeta com os auspícios de um cometa
Naquele ano da Revolta da Chibata
A sua vida foi de notas musicais
Seus lindos sambas animavam carnavais
Brincava em blocos com boêmios e mulatas
Subia morros sem preconceitos sociais

Foi um grande chororô
Quando o gênio descansou
Todo o samba lamentou Ô ô ô...
Que enorme dissabor
Foi-se o nosso professor
A Lindaura soluçou
E a Dama do Cabaré não dançou
Fez a passagem pro espaço sideral
Mas está vivo neste nosso carnaval
Também presentes Cartola
Aracy e os Tangarás
Lamartine, Ismael, e outros mais
E a fantasia que se usa
Pra sambar com o menestrel
Tem a energia da nossa Vila Isabel
Tem a energia da nossa Vila Isabel






Samba enredo da Vila Isabel 2010
composto pelo grande Martinho da Vila

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

o verborragismo

"verborrágica" é uma pessoa que não tem uma válvula que filtra o pensamento acabando por escapolir e se materializar com densidade e volume em palavras!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Café com uma crônica

Eu vi aqui , dei um Ctrl C + Ctrl V e está ai: Xico Sá pra vocês!

Você acorda e está diante do maior espetáculo da terra: a mulher no seu ritual de arrumação, o banho, o creme na perna levemente amparada sobre a poltrona, os cabides em forma das mesmas interrogações e dúvidas - com que roupa? - e aos poucos, peça a peça, me vejo diante da Anna Karina, a atriz, no auge da Nouvelle Vague.

Em muitas ocasiões, finjo até que estou dormindo, só para flagrar a beleza sem interferir no acontecimento. Dessa forma, ela se apresenta mais naturalmente e oferece melhores ângulos. Cena a cena, meu filme preferido, cinema na cama antes de pedir o café pra nós dois.

Porque uma mulher se vestindo é infinitamente mais elegante do que uma mulher tirando a roupa. Por mais que seja fina, há sempre um descuido ao despir-se, além da pressa inimiga, claro, nos momentos do sexo selvagem.

Seja um Yves Saint Laurent, um garimpo de brechó ou um vestido do magazine mais próximo, não importa, o que vale é o ritual, a combinação de cores, os detalhes, o quadro a quadro que constrói o figurino. Lindo e lento strip-tease ao contrário.

E o momento da maquiagem? Passo mal ao espiar ao longe. Sim, nada de acreditar nessa historinha de "você já é bonita com o que Deus lhe deu!" Dorival Caymmi, saravá meu pai!, é uma beleza de homem, mas pinte esse rosto que eu gosto e que é só seu. Com todos aqueles lápis que lhe fazem uma criança brincar de colorir o desejo.

Agora ela anda pela casa, à procura do acessório perdido... Seus passos fazem música com os tacos, como é bom ouvir, excitado, aquele ritmo ainda embaixo dos lençóis.

Quando o destino é uma festa, o ritual não é menos nobre, mas ainda prefiro o preguiçoso espetáculo das manhãs - final das manhãs, digamos, porque madrugar ninguém merece.

E sempre rio baixinho do momento da dúvida na escolha do vestuário, quando você suspira, quando você solta o mesmo resmungo de todas as mulheres do mundo: "Não tenho roupa!". Pode ser uma madame de alta classe ou uma jovem atriz, que ainda trabalha de garçonete.

O importante é que você se veste e aquele filme, Cinemascope, passa como sonho o resto do dia na minha cabeça.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

é a pós-modernidade

A síndrome do "meterobedelho" é uma doença que afeta muitas cidadãs e cidadãos e fica no limiar entre a espontaneidade e a inconveniência.
O "meterobedelho" ocorre sempre quando a pessoa não é chamada a tratar do assunto, mas devido a um dipositivo pré-existente chamado "souintimodemais" acaba por se manifestar de maneira sutil e devastadora.
A "individualidadedooutro" é um dos aspectos mais afetados por essa síndrome que se alastra a cada dia.
Os estudos indicam que os sites de relacionamento, muito presentes na pós-modernidade, estimulam a existência de sintomas como: necessidade de dar satisfação da sua vida, achar-se no direito de pedir satisfação da vida de outros e intolerância em caso de afastamentos.
Seria o fim dos tempos?!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

a felicidade

Felicidade vem dentro de uma caixinha da Sweets com cobertura de chocolate. Felicidade é um cafuné na cabeça, é dia de sábado à tarde, é luta de travesseiro. Felicidade é receber um beijo inusitado, um abraço apertado e uma mensagem esperada. Felicidade é matar a saudade. Felicidade é escutar a voz rouca de Bob Dylan cantado Shelter From The Storm, é escutar o solo daquela guitarra fender.
Felicidade é assistir à uma grande produção de Bertolucci e entender um filme de David Lynch, é descobrir novos autores de bons livros, é acabar de ler um livro de Edward Bunker. Seria ainda uma gota de orvalho, segundo o poeta, tão pequeno mas bonito de se ver.
Felicidade está dentro de uma limonada numa tarde escaldante, felicidade são passagens compradas a dois. Felicidade tem cheirinho de carro novo, de casa com jardim , café na cafeteira e pão assado.Felicidade está dentro das panelas de inox novinhas, do enxoval bordado pela avó, da galinha de ovos Filó, que enfeita a geladeira. Felicidade está em cima de um sofá amarelo fofinho, assistindo De olhos bem fechados, com olhos bem abertos, só para favorecer o trocadilho e ser mais feliz.
E assim, para sempre morar naquela feli(z)cidade!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Café com Poesia

Marianiando...

"Fere de leve a frase... E esquece... Nada
Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita."

Mário Quintana

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

considerações sobre a minha intensidade

Às vezes tenho a vaga impressão de que se um dia Almodóvar me conhecesse ele me chamaria para protagonizar um desses filmes onde os tons vermelhos sobressaem aos azuis expressando-se ardentemente intensos, é claro que esse meu delírio me deixaria numa posição muito confortável, sendo a protagonista de um filme de Almodóvar eu me sentiria a própria Penélope Cruz e cá pra nós, eu arrasaria!
O fato é que nem sou boa atriz nem sou Penélope Cruz (ahhhh), eu sou essa pessoa aqui procurando ajustar os ponteiros da intensidade gritante e vermelha que há em mim.
Hoje entendo que a minha intensidade expressa essa vontade viver os momentos como se eles fossem acabar no próximo minuto, e não é que realmente acabam? Isso me deixava numa ansiedade terrível para extrair dos momentos tudo o que ele podia me oferecer, hoje sei que eles acabam, mas é só pra dar cabimento a tantos outros.
A verdade é que, como tudo na vida, esse aspecto também tem mudado em mim, e hoje estranho em deparar-me com uma certa mansidão e paciência. E não é que isso é bom?! Ter calma para se posicionar melhor em algumas situações e até sair de cena, muitas vezes são fortes aliados para um olhar mais apurado da vida.
A única coisa ruim nisso tudo é que não irei brilhar em Cannes no próximo filme de Almodóvar, que barra heim?!