segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Café com Poesia: Ana Jacomiando

Tomara
Ana Jácomo



Tomara que a neblina das circunstâncias mais doídas não seja capaz de encobrir por muito tempo o nosso sol. Que toda vez que o nosso coração se resfriar à beça, e a respiração se fizer áspera demais, a gente possa descobrir maneiras para cuidar dele com o carinho todo que ele merece. Que lá no fundo mais fundo do mais fundo abismo nos reste sempre uma brecha qualquer para ver também um bocadinho de céu.



Tomara que os nossos enganos mais devastadores não nos roubem o entusiasmo para semear de novo. Que a lembrança dos pés feridos quando, valentes, descalçamos os sentimentos, não nos tire a coragem da confiança. Que sempre que doer muito, os cansaços da gente encontrem um lugar de paz para descansar na varanda mais calma da nossa mente. Que o medo exista, porque ele existe, mas que não tenha tamanho para ceifar o nosso amor.



Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso. Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades, mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes. Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito. Que, mesmo quando estivermos doendo, não percamos de vista nem de busca a ideia da alegria.



Tomara que apesar dos apesares todos, dos pesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão da felicidade.

Tomara.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

o solo da sua guitarra

No toque da guitarra desconcerto. Concerto para a vida. A vida compassada. Naquele acorde que busquei. O solo da guitarra que tanto sonhei. Você. Acordando os meus compassos. Compassando os meus acordes. Tem cor de música. Cheiro de madrugada. Som de sol quando se põe. Coração palpita. Pulsa. Salta. Cambalhota. Anseia sempre a sua chegada.


Passeio em movimentos acelerados. Compassados por uma guitarra. Errante. Vibrante. Excitante. Eu gasto as horas à sua espera. Consumo do tempo. No contratempo. Queimo por dentro. Brasa. Fogo. Chama. Combustão de sentimento. A pele rubra. De raiva. De desejo. A vontade de você que invade a alma.


Você metade, eu inteira. Consumido pelas horas de prazer. Subtraido pelo desejo da mulher. Eu que sempre estive ali. Escutando seus acordes. E no toque da sua guitarra dancei para vida. Eu que amei você mesmo antes de conhecê-lo. Na minha curiosidade procurava entender quem éramos. Eu que nunca fui sem você.