sexta-feira, 22 de outubro de 2010

um poço

Enquanto as folhas do calendário se esvaem, permaneço equilibrando um corpo esguio mal ajambrado num par de calçados nº 37 para seguir em frente, cambaleante, com as dores dos desamores, aquela dor física de quem levou uma chapuletada na cabeça e ainda está azoretado.

As tarefas corriqueiras se tornam penosas. De todas sem dúvidas dormir tem me parecido a mais difícil, quando tudo em volta se abranda os morcegos do nobre Augusto dos Anjos invadem o quarto, o juízo não pára.

À noite as criaturas mais asquerosas saem da toca, entre baratas, ratos e morcegos, a minha insônia se instala para a tortura noturna.

Clamo em luto: se for pra estar no poço, prefiro o fundo dele, tenho dito, lá posso desaguar tudo o que resta de dor para que com o despertar dos dias de sol eu possa sair com a certeza que não me resta mais nada do que um dia sofri.

"Há que sentar-se na beira do poço da sombra e pescar luz caída com paciência", trabalho difícil caro Neruda, necessário por supuesto.

Desprezo é o que um dia, quando o amor acabar, poderei desfrutar do inusitado de nós dois.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

haikai doido

dor dói
dói dor
doido
(por você)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

aquele ponto final


porque toda razão / toda palavra / vale nada / quando chega o amor

terça-feira, 5 de outubro de 2010

da ressaca de um the end II

Depois do the end no centro da tela. Os créditos finais. Fade out, fade in. E começa o filme II parte I: Prometo.

Uma chuva de promessas. Um toró daqueles pesados. É mais promessa que o Estádio do Santa Cruz todinho implorando à Deus, Jesus, Jeová ou Maomé para tirar a cobrinha da série "D".


É promessa de tudo quanto é tipo meu nêgo e minha cumadre, é um tal de “eu juro não ser tão passional”, “prometo não me entregar tanto na próxima empreitada amorosa”, “eu juro que vou me amar mais”, e por ai vão as promessas nossas de cada decepção.


São as promessas da ressaca do fim. Tão fluídas como as da cachaça mal sucedida, como regime de segunda-feira e das nobres mudanças de fim de ano.


Promessas devem feitas, mesmo que elas não saiam da sua posição original, apenas promessas!

Prometa, mesmo sabendo que você não vai cumprir. Pelo direito nobre de prometer. Invente mundos fantásticos de alguém que levou uma queda do cavalo branco daquele bandido e será socorrida pelo príncipe. Prometa se cuidar mais, ser mais racional, evitar DR’s, ser madura. Prometa. Que mal faz uma promessa não cumprida?


Jure de pé junto, mesmo sabendo que ao próximo cheirinho no cangote você possivelmente vai esquecer tudo o que prometeu. Vai se entregar como uma louca, vai ser intensa, passional e cometer os mesmos erros tudo de novo. Ou vai me dizer que o próximo macho alfa que aparecer galanteante na sua frente não vai te deixar com borboletas no estômago? Pra cima de mim dona Maria?


Pelo direito irrestrito de amar demais, mesmo que seja tudo somente sexo e amizade.