segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Café com uma crônica

Eu vi aqui , dei um Ctrl C + Ctrl V e está ai: Xico Sá pra vocês!

Você acorda e está diante do maior espetáculo da terra: a mulher no seu ritual de arrumação, o banho, o creme na perna levemente amparada sobre a poltrona, os cabides em forma das mesmas interrogações e dúvidas - com que roupa? - e aos poucos, peça a peça, me vejo diante da Anna Karina, a atriz, no auge da Nouvelle Vague.

Em muitas ocasiões, finjo até que estou dormindo, só para flagrar a beleza sem interferir no acontecimento. Dessa forma, ela se apresenta mais naturalmente e oferece melhores ângulos. Cena a cena, meu filme preferido, cinema na cama antes de pedir o café pra nós dois.

Porque uma mulher se vestindo é infinitamente mais elegante do que uma mulher tirando a roupa. Por mais que seja fina, há sempre um descuido ao despir-se, além da pressa inimiga, claro, nos momentos do sexo selvagem.

Seja um Yves Saint Laurent, um garimpo de brechó ou um vestido do magazine mais próximo, não importa, o que vale é o ritual, a combinação de cores, os detalhes, o quadro a quadro que constrói o figurino. Lindo e lento strip-tease ao contrário.

E o momento da maquiagem? Passo mal ao espiar ao longe. Sim, nada de acreditar nessa historinha de "você já é bonita com o que Deus lhe deu!" Dorival Caymmi, saravá meu pai!, é uma beleza de homem, mas pinte esse rosto que eu gosto e que é só seu. Com todos aqueles lápis que lhe fazem uma criança brincar de colorir o desejo.

Agora ela anda pela casa, à procura do acessório perdido... Seus passos fazem música com os tacos, como é bom ouvir, excitado, aquele ritmo ainda embaixo dos lençóis.

Quando o destino é uma festa, o ritual não é menos nobre, mas ainda prefiro o preguiçoso espetáculo das manhãs - final das manhãs, digamos, porque madrugar ninguém merece.

E sempre rio baixinho do momento da dúvida na escolha do vestuário, quando você suspira, quando você solta o mesmo resmungo de todas as mulheres do mundo: "Não tenho roupa!". Pode ser uma madame de alta classe ou uma jovem atriz, que ainda trabalha de garçonete.

O importante é que você se veste e aquele filme, Cinemascope, passa como sonho o resto do dia na minha cabeça.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

é a pós-modernidade

A síndrome do "meterobedelho" é uma doença que afeta muitas cidadãs e cidadãos e fica no limiar entre a espontaneidade e a inconveniência.
O "meterobedelho" ocorre sempre quando a pessoa não é chamada a tratar do assunto, mas devido a um dipositivo pré-existente chamado "souintimodemais" acaba por se manifestar de maneira sutil e devastadora.
A "individualidadedooutro" é um dos aspectos mais afetados por essa síndrome que se alastra a cada dia.
Os estudos indicam que os sites de relacionamento, muito presentes na pós-modernidade, estimulam a existência de sintomas como: necessidade de dar satisfação da sua vida, achar-se no direito de pedir satisfação da vida de outros e intolerância em caso de afastamentos.
Seria o fim dos tempos?!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

a felicidade

Felicidade vem dentro de uma caixinha da Sweets com cobertura de chocolate. Felicidade é um cafuné na cabeça, é dia de sábado à tarde, é luta de travesseiro. Felicidade é receber um beijo inusitado, um abraço apertado e uma mensagem esperada. Felicidade é matar a saudade. Felicidade é escutar a voz rouca de Bob Dylan cantado Shelter From The Storm, é escutar o solo daquela guitarra fender.
Felicidade é assistir à uma grande produção de Bertolucci e entender um filme de David Lynch, é descobrir novos autores de bons livros, é acabar de ler um livro de Edward Bunker. Seria ainda uma gota de orvalho, segundo o poeta, tão pequeno mas bonito de se ver.
Felicidade está dentro de uma limonada numa tarde escaldante, felicidade são passagens compradas a dois. Felicidade tem cheirinho de carro novo, de casa com jardim , café na cafeteira e pão assado.Felicidade está dentro das panelas de inox novinhas, do enxoval bordado pela avó, da galinha de ovos Filó, que enfeita a geladeira. Felicidade está em cima de um sofá amarelo fofinho, assistindo De olhos bem fechados, com olhos bem abertos, só para favorecer o trocadilho e ser mais feliz.
E assim, para sempre morar naquela feli(z)cidade!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Café com Poesia

Marianiando...

"Fere de leve a frase... E esquece... Nada
Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita."

Mário Quintana

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

considerações sobre a minha intensidade

Às vezes tenho a vaga impressão de que se um dia Almodóvar me conhecesse ele me chamaria para protagonizar um desses filmes onde os tons vermelhos sobressaem aos azuis expressando-se ardentemente intensos, é claro que esse meu delírio me deixaria numa posição muito confortável, sendo a protagonista de um filme de Almodóvar eu me sentiria a própria Penélope Cruz e cá pra nós, eu arrasaria!
O fato é que nem sou boa atriz nem sou Penélope Cruz (ahhhh), eu sou essa pessoa aqui procurando ajustar os ponteiros da intensidade gritante e vermelha que há em mim.
Hoje entendo que a minha intensidade expressa essa vontade viver os momentos como se eles fossem acabar no próximo minuto, e não é que realmente acabam? Isso me deixava numa ansiedade terrível para extrair dos momentos tudo o que ele podia me oferecer, hoje sei que eles acabam, mas é só pra dar cabimento a tantos outros.
A verdade é que, como tudo na vida, esse aspecto também tem mudado em mim, e hoje estranho em deparar-me com uma certa mansidão e paciência. E não é que isso é bom?! Ter calma para se posicionar melhor em algumas situações e até sair de cena, muitas vezes são fortes aliados para um olhar mais apurado da vida.
A única coisa ruim nisso tudo é que não irei brilhar em Cannes no próximo filme de Almodóvar, que barra heim?!