sexta-feira, 22 de outubro de 2010

um poço

Enquanto as folhas do calendário se esvaem, permaneço equilibrando um corpo esguio mal ajambrado num par de calçados nº 37 para seguir em frente, cambaleante, com as dores dos desamores, aquela dor física de quem levou uma chapuletada na cabeça e ainda está azoretado.

As tarefas corriqueiras se tornam penosas. De todas sem dúvidas dormir tem me parecido a mais difícil, quando tudo em volta se abranda os morcegos do nobre Augusto dos Anjos invadem o quarto, o juízo não pára.

À noite as criaturas mais asquerosas saem da toca, entre baratas, ratos e morcegos, a minha insônia se instala para a tortura noturna.

Clamo em luto: se for pra estar no poço, prefiro o fundo dele, tenho dito, lá posso desaguar tudo o que resta de dor para que com o despertar dos dias de sol eu possa sair com a certeza que não me resta mais nada do que um dia sofri.

"Há que sentar-se na beira do poço da sombra e pescar luz caída com paciência", trabalho difícil caro Neruda, necessário por supuesto.

Desprezo é o que um dia, quando o amor acabar, poderei desfrutar do inusitado de nós dois.

Um comentário:

Karla disse...

Que no seu fundo do poço exista uma mola que te impulsione ao esquecimento, ao amor próprio, ao melhor da vida. Você merece muito mais da vida que um mero fundo sujo de poço.