Brasília, vem cá, senta aqui. Você lembra? Eu cheguei em suas terras ainda tão verde, não demorou muito e eu me encantei com você. Seu céu, sua arquitetura, sua história recente... Ah... Como eu me deslumbrei com sua imponência! Você é realmente grande!
Logo tentei ser sua amiga.Você não disse nem sim, nem não. Você foi indiferente. Hoje venho em confissão: a sua indiferença matou aos poucos os meus sonhos, os mesmos que me trouxeram até você. Aos poucos fui morrendo junto com cada sonho e, a cada luto você se fazia mais indiferente. Brasília, seus filhos são setorizados, à sua imagem semelhança. E eu me perdi. Mas só se perde quem tenta.
Estranhamente você fazia brotar do túmulo de cada sonho, sorridentes ipês amarelos, e eu deixava minha tristeza se distrair com esse jogo sedutor da sua terra seca. Aos poucos, me vi igualmente seca. E igualzinha a você, floresci. Entendi que o deserto é fértil. Foi você quem me ensinou.
Aliás você me ensinou muita coisa. Eu cheguei aqui menina. Hoje sou mulher. Mas Brasília, você me tirou a inocência, aprendi que você é pros fortes e diferente de você, eu não sou de concreto. Mas você me ensinou também que eu não sou de vidro. Sim, o fato é que sou uma mulher daquelas de carne e osso, que são fortes, mas também choram o choro das justas. E como eu chorei!
Sob seu bonito céu, fui feliz, fui triste, fui valente, guerreira. Aqui cometi erros imperdoáveis e amarguei sozinha as consequências. Aqui fui vitoriosa. No seu solo fui solidão. Às vezes doce, muitas vezes amarga solidão. Cansei. E você me ensinou a respeitar meu próprio cansaço. A solidão edificou minha mente, me fez crescer. E crescer dói. Doeu muito.
Hoje tomo outro rumo. É verdade, eu tenho uma mania incorrigível de cigana. Mas graças a você, vou confiante. Você testou minha fé e eu passei na prova. Ando com fé, em Deus, na vida, em mim mesma e no mundo.