quinta-feira, 18 de setembro de 2014

carta à Brasília


 Brasília, vem cá, senta aqui. Você lembra? Eu cheguei em suas terras ainda tão verde, não demorou muito e eu me encantei com você. Seu céu, sua arquitetura, sua história recente... Ah... Como eu me deslumbrei com sua imponência! Você é realmente grande!
 Logo tentei ser sua amiga.Você não disse nem sim, nem  não. Você foi indiferente. Hoje venho em confissão: a sua indiferença matou aos poucos os meus sonhos, os mesmos que me trouxeram até você. Aos poucos fui morrendo junto com cada sonho e, a cada luto você se fazia mais indiferente. Brasília, seus filhos são setorizados, à sua imagem semelhança. E eu me perdi. Mas só se perde quem tenta.
Estranhamente você fazia brotar do túmulo de cada sonho, sorridentes ipês amarelos, e eu deixava minha tristeza se distrair com esse jogo sedutor da sua terra seca. Aos poucos, me vi igualmente seca. E igualzinha a você, floresci. Entendi que o deserto é fértil. Foi você quem me ensinou.
Aliás você me ensinou muita coisa. Eu cheguei aqui menina. Hoje sou mulher. Mas Brasília, você me tirou a inocência, aprendi que você é pros fortes e diferente de você, eu não sou de concreto. Mas você me ensinou também que eu não sou de vidro. Sim, o fato é que sou uma mulher daquelas de carne e osso, que são fortes, mas também choram o choro das justas. E como eu chorei!
Sob seu bonito céu, fui feliz, fui triste, fui valente, guerreira. Aqui cometi erros imperdoáveis e amarguei sozinha as consequências. Aqui fui vitoriosa. No seu solo fui solidão. Às vezes doce, muitas vezes amarga solidão. Cansei. E você me ensinou a respeitar meu próprio cansaço. A solidão edificou minha mente, me fez crescer. E crescer dói. Doeu muito.
Hoje tomo outro rumo. É verdade, eu tenho uma mania incorrigível de cigana. Mas graças a você, vou confiante. Você testou minha fé e eu passei na prova. Ando com fé, em Deus, na vida, em mim mesma e no mundo.
Mesmo hostil foi na sua terra que eu me reconciliei comigo mesma e gratidão, Brasília, é um bonito exercício. Obrigada!

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

do luto à luta


Siga em paz Eduardo, obrigada pelo legado que deixastes ao povo Pernambucano e a semente que já plantastes no coração do brasileiro de amor, destreza política, a luta irrestrita por justiça social e conduta séria e dedicada ao menos favorecidos! Seu povo está de luto, mas não se forjará à luta!

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Transbordo



Tem dias em que o sorriso traduz sentimentos inacessíveis. Então sorrio. Cócegas da vida. Gargalhada do coração. Vem de dentro pra fora. E explode no vento. Sorriso e braços abertos para o tão esperado novo tempo.

Tem dias em que inicia a primavera da alma. Então floreio. Colheita dos dias. Depois do deserto, o oásis. Momentos de deserto são férteis. Ocupar-se deles com sabedoria. E receber o oásis. Com gratidão.

Tem dias em que o amor vira poesia. Então poetizo. Para colorir nossos sorrisos. E enfeitar o caminho. Arado por nós. Labuta resiliente. Colheita consequente. 

Tem dias em que não caibo em mim. Então transbordo. Em ti.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Quando chega o amor


E sem avisar, eis que  chega o amor. Portas, janelas e braços abertos. Escancarados. A vida é generosa com quem é de verdade. O romper de um tempo. Pra dar cabimento a tantos capítulos a serem vividos. Vívidos. O romper daquela espera. (Des)espera. Exaspera. E vem. A vida sabe o que faz.

Sorrisos e lágrimas. Em grande volume. O amor que faltava na engrenagem de vidas. Chegou. Novos tempos. Bons tempos. Os maus? Passaram. Marcaram histórias. E se foram. O humano medo de errar. Humanos, demasiadamente, humanos. Nietzsche quem ensinou. Resta a fé. Descrédito do autor. Mas chama constante que aquece a alma.

Fé em você. No amor. No mundo. E em mim mesma. Sigamos. A vida dá cabimento à plenitude. E o amor que faltava, já sorri em mim.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

tempo, mano velho!



E chega um tempo em que é necessário pararmos, respirar fundo e seguir. Notamos as lacunas deixadas em nossa história. Os sorrisos. Sabores. Flores. Perderam-se em algum lugar do caminho. Tempo de nova estação. Seguir. Esvaziados do que foi. Só para dar cabimento aos novos preenchimentos.

No descuido. Somos engolidos pelo tempo. Sedução dos dias. Ilusão da rotina. Resignificar. Fazer doer o que está sangrando e esperar a cura do próprio tempo. Momentos. De espera.

E chega um tempo em que sentimos dor. Dor de crescimento. Quando o corpo não está preparado para o engradecimento da alma. Elastece a carne. E o coração. Fazer doer o que tem pra seu doído. Até esgotar as possibilidades da recaída. Resta a saudade. E a esperança de que outros tempos virão.


para: Graziella Castanhari
foto: Recife

sábado, 2 de fevereiro de 2013

despedida


Hoje meu sorriso perdeu a graça. Ainda sinto o cheiro de raito queimando sobre a pele. Num verão perdido no passado. Em Itamaracá, Ponta de Mangue ou num condomínio na Pompeia. Ainda escuto o fungado, característico de um cacoete peculiar. Nos meus dedos engilhados, posso sentir os mariscos bravamente tirados do mar, para compor o almoço de veraneio. E escutar ao final um elogio de gracejo. Gracejos da vida. 
 
Hoje meu sorriso desconsertou. Deu lugar às lembranças. E à reverência. Ao senso de humor e de justiça. Justa e generosa. Características marcantes de uma vida inteira.  Os ensinamentos que ficaram. Ecoam desgovernados pelo tempo. Trazidos pelo vento. Ainda escuto a voz rouca chamando Pituca e Pequeno. Que de tamanha fidelidade velaram um sono profundo. Eterno. No semblante sereno, agora gélido descansa no colo de Deus.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

c'est la vie



Há tempos em que nos aventuramos a segurar um momento com as mãos. Um instante. Aquele Instante. Preciso. Não. Impreciso. Mas exato. Aquele exato momento em que o sorriso torna-se sereno. Como quem deseja que ele aconteça permanentemente. Mas a vida é regente. E a vida. Ah a vida! A vida sempre sabe o que faz.

Há tempos em que temos uma trégua. Quando de presente ganhamos um repouso. Na superfície. Só pra dar cabimento aos mergulhos ainda mais profundos. Como quem necessita ir lá em cima tomar um folego e retornar à labuta. Mergulhar. Na alma. Nos dias. Na vida. E a vida. Ah a vida! A vida sempre sabe o que faz.

Há tempos em que entendemos que os momentos passam. Só para dar cabimento a todos os outros que virão. Esvaziar-se do que está cheio. E encher com parcimônia tudo novamente. E a vida, meus caros. Ah a vida! A vida sempre sabe o que faz.


C'est la vie!